domingo, 5 de outubro de 2008

A guerreira do clima

A difícil missão da ministra dinamarquesa é obter o consenso internacional em torno de um acordo para conter o aquecimento global

A ministra prepara o terreno para a Conferência sobre Mudança Climática das Nações Unidas, que será realizada na capital dinamarquesa em dezembro do próximo ano. Essa é a data-limite para a assinatura de um tratado para substituir o Protocolo de Kioto, que estipulou metas de redução dos gases do efeito estufa até 2012. Em visita ao Brasil, onde se encontrou com representantes do governo e visitou uma usina de etanol, Hedegaard concedeu a seguinte entrevista a VEJA. Veja alguns trechos a seguir:


Qual é o principal indício do aquecimento global?


Em 2004, quando fui nomeada ministra do Meio Ambiente, recebi a informação de que em trinta anos o derretimento do gelo do Ártico iria permitir a navegação entre o Mar do Norte e o Oceano Pacífico. Decorreram apenas quatro anos e, no último mês, a passagem já ficou livre do gelo. Ou seja, a abertura do caminho ocorreu muito antes do previsto. Esse é um claro exemplo de que agir agora faz muita diferença. Os países desenvolvidos precisam fazer o maior esforço para reduzir as emissões dos gases causadores do aquecimento global. Mas as grandes economias emergentes, como a China, a Índia e o Brasil, também têm de contribuir


O combate ao aquecimento global pode atrapalhar o desenvolvimento dos países pobres?


Quando falamos em reduzir o desmatamento e em outras medidas de combate ao aquecimento global, não queremos de forma alguma prejudicar o direito ao crescimento econômico dos países emergentes. Para sustentarmos um bom padrão de vida para a população mundial de 9 bilhões de pessoas, como está previsto para 2050, teremos de ser mais eficientes no uso dos recursos naturais e investir em fontes renováveis de energia. Quinhentos milhões de pessoas vivem sem luz elétrica na Índia. Claro que não podemos pedir ao governo indiano que seu país pare de crescer economicamente. Precisamos descobrir uma maneira de tornar esse crescimento sustentado, com um impacto menor sobre o ambiente.


Que papel o etanol de cana-de-açúcar pode ter na redução de emissões de poluentes no mundo?


Ao tornar os biocombustíveis sustentáveis, o Brasil contribuiu com uma tecnologia que pode ajudar bastante na redução da poluição. As emissões brasileiras, no entanto, continuam subindo. Se o crescimento do número de carros rodando nas estradas e ruas brasileiras supera os benefícios do combustível limpo, significa que o país ainda tem alguns desafios a resolver. O etanol é bom, mas é preciso fazer mais e investir em outras fontes de energia. Na Dinamarca, temos um potencial eólico muito bem aproveitado, mas também temos de fazer mais em termos de eficiência energética.

O lobby contra o aumento da adição de etanol à gasolina é bastante influente na União Européia. Será em vão o esforço da diplomacia brasileira para transformar o álcool combustível em uma commodity internacional?


Não. A meta da União Européia é que 10% da frota use fontes renováveis de combustível já em 2020. Isso pode ser atingido com etanol, com eletricidade ou com novas tecnologias. Nós queremos que todo o setor de transportes reduza suas emissões. A discussão relacionando a alta no preço dos alimentos com a produção de biocombustível serviu para esclarecer o assunto. Alguns biocombustíveis são sustentáveis, outros não. Os critérios que vamos estabelecer na União Européia não serão em prejuízo do etanol brasileiro, porque este será capaz de atender às exigências. Coisa diferente ocorre na Europa, onde há quem queira fazer etanol de vinho. Gasta-se sete vezes mais combustível fóssil para transformar vinho em etanol, e isso, obviamente, é uma loucura inadmissível. A eficiência do produto, as conseqüências para a natureza, para a água, tudo isso tem de ser estudado. Na Dinamarca, estamos investindo em biocombustíveis de segunda geração. Uma de nossas empresas desenvolveu uma enzima capaz de transformar lixo em biocombustível, uma área em que podemos estabelecer cooperação com o Brasil.


Fonte: A guerreira do clima. Revista Veja. Disponível em: http://veja.abril.com.br/081008/entrevista.shtml. Acessado em: 05 out. 2008


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2 comentários:

Luiz Bento disse...

Parabéns pelo blog. Também escreve bastante sobre biocombustíveis e aquecimento global. De uma passada no meu blog quando puder.

http://discutindoecologia.blogspot.com/

Luiz Bento disse...

Valeu pela parceria daniel. Adicionado ao discutindo ecologia.

Abraços.

 
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